O Mundo dos Esquisitos
Esquisito. Essa é a palavra que mais me ocorre quando observo o mundo ao redor. Esquisito é ver uma população que se entrega com fervor a teorias da conspiração — reptilianos, chips, sociedades secretas —, mas vira o rosto diante da fome que espreita nas esquinas, dorme nas calçadas e aperta o estômago de milhões. A miséria é invisível, mas o medo de um plano mundial secreto é tão vívido quanto um filme de Hollywood.
Esquisito é esse mundo de seres que nasceram com as mesmas fragilidades biológicas, que sangram, choram e morrem, mas que se gabam de serem “melhores”. Melhor por quê? Pela roupa, pelo carro, pela cor da pele, pelo bairro, pela conta bancária, pela religião, pelo diploma? A competição é o novo deus, e quem não vence é descartável.
Esquisito é esse casamento improvável entre Deus e política. Não falo da espiritualidade, que pode elevar e transformar, mas da institucionalização do divino em forma de bancada. Bancada evangélica, bancada da Bíblia, bancada da moral seletiva. Como se a fé tivesse partido, horário eleitoral. Como se Deus tivesse um lado, um voto, um projeto de lei.
Esquisito é usar o nome de Deus para matar. Sempre foi assim, dizem os livros de história. Cruzadas, inquisidores, bombas, drones, mártires — e mártires do lado errado da história. O sangue escorre há séculos em nome de um ser que, se existe, talvez esteja cansado de tanto ser mal interpretado.
E o mais esquisito de tudo é que o bem, neste mundo estranho, precisa justificar-se. Precisa mostrar documentos, provas, selos de autenticidade. Ser bom virou algo suspeito. "Ele quer algo em troca", dizem. "É só aparência", garantem. O mal, esse, já não precisa disfarçar — é aplaudido, ganha curtidas, seguidores e até cargos públicos.
Esquisito esse mundo. E talvez o mais esquisito de tudo... é que a gente se acostuma.
Glauco Viana
Enviado por Glauco Viana em 07/05/2025