Nenhuma ideia pode matar.
Nenhuma ideia tem o direito de matar.
Nenhum grupo em sintonia
deveria causar sofrimento.

Nenhuma filosofia deveria sangrar.
Nenhuma crença, carregar preconceito.
Mas a humanidade seguiu
ideias como quem segue ordens —
cegas, frias, letais.

Ergueram tronos para tiranos,
enriqueceram poucos
com o suor dos muitos.
Leis escritas em dor,
sistemas que pariram fome.

Se uma diretriz provoca sequer uma morte,
já perdeu sua razão.
Todos os “ismos” mataram mais do que salvaram,
iludiram mais do que libertaram.
A ignorância foi instrumento da inteligência financista.

Não houve revolução humana.
Não houve guerra que trouxesse flores.
Não houve revolta que trouxesse paz.

Usaram a fé como venda,
Deus como escudo,
e a liberdade,
como promessa em papel.

A vontade própria foi sepultada
num cemitério de interesses.
A hierarquia, o poder, a vaidade,
a cobiça, o fanatismo...
Todos roubaram o homem de si mesmo.

As ideias mataram.

Só restaram
as ideias poéticas.