COLETIVIDADE
Conviver com mulheres na Casa da Democracia — como as companheiras do coletivo Linhas do Mar — é reencontrar uma palavra que parece ter sido esquecida nos últimos tempos: coletividade.
Quanto tempo faz que não ouvimos essa palavra com seriedade e intenção? Em meio ao caos social e moral instaurado após a pandemia e o avanço das ideologias da extrema direita, atitudes como empatia, solidariedade e cooperação se tornaram quase atos revolucionários. Vivemos tempos em que o egoísmo, muitas vezes exaltado como virtude, tornou-se uma doença resistente até mesmo aos melhores tratamentos sociais e psicológicos.
Nesse cenário, mulheres se reúnem para bordar frases de apelo social — uma ação simples, mas imensamente poderosa. Bordar com propósito é também costurar redes de apoio, reafirmar o direito à voz e celebrar o cuidado mútuo. Em tempos de competição desenfreada e desumanização, esses encontros tornam-se preciosidades: são sementes de um mundo possível, mais justo e mais humano.
A lógica capitalista da concorrência transformou abraços em ameaças. Crianças crescem acreditando que precisam vencer o outro para existir. A educação, a moral e o respeito foram descartados como se fossem obstáculos ao sucesso. Mas há uma verdade que precisa ser dita com todas as letras: não há futuro viável sem coletividade.
A coletividade é mais do que um valor ético; é um instrumento concreto de transformação social. Ela tem como meta a paz, a igualdade e a dignidade. Quando alguém não possui as mesmas condições que os outros, é a coletividade que intervém para equilibrar as desigualdades. É ela que entende que dignidade não deve ser privilégio — deve ser direito garantido e vivido.
Em um mundo que cultua o sangue e a violência como espetáculo, a coletividade é amor em forma de ação. É ela que ampara os corpos marginalizados, que protege indígenas, negros, gays, pobres e estrangeiros. É ela que oferece o antídoto para a crueldade travestida de meritocracia.
Só haverá paz quando todas as pessoas tiverem acesso à alimentação, ao trabalho e à dignidade assegurada na prática, não apenas na letra da Constituição. A coletividade é o caminho para isso. E talvez, seja o único.
Glauco Viana
Enviado por Glauco Viana em 18/03/2025
Alterado em 05/05/2025