Impressionante como a escrita me levou para créditos mesmo acontecendo naturalmente.
Só escrevendo que sou ouvido.
Não adianta eu gritar, eu espernear, eu esfregar constituição e códigos penais na cara dos injustos.
Nada disso resolveu na minha vida.
Meu jeito ora eufórico demais, ora depressivo -  deu espaço ao compromisso eterno da caridade.
Os espertos do meu lado aproveitaram.
Minha bondade foi confundida com caminho livre para vagabundagem.
Muitos me roubaram e não pagaram.
Muitos me difamaram e cresceram usando meu trabalho.
Quantos vagabundos minha empresa sustentou.
Quantos dentistas eu empreguei.
Quanta gente eu ajudei.
O fim era fato: esqueci de mim.
Na loucura de atender o máximo de pacientes no COVID, perdi todo meu bem material para dois pares de bunda saciáveis de ganância.
E ninguém me ouviu.
Só me resta escrever.
Só me resta entender como Instituições políticas como sindicatos são capazes de machucar sem saber que está machucando, de caluniar sem saber o que é calúnia, de roubar sem saber que o roubo poderia levar ao suicido a vítima.
Eu gritei tanto,
Eu falei tanto,
Eu provei tanto...
Mas nada foi feito.

Só me restou escrever.