Quem é bandido?
Será que conseguimos analisar o que ouvimos ou apenas repetimos a opinião com a qual nos identificamos mais? Você não sabe onde quero chegar, mas siga o raciocínio...
Todos nós julgamos e condenamos bandidos que nos é apresentado na TV, jornal ou ainda em uma conversa entre amigos. Não questionamos se quem mata ou manda mantar é bandido, nem tão pouco o seqüestrador. Mas as circunstancias, algumas vezes, mudam sua opinião. Por exemplo, você não seria bandido se matasse para se defender, nem mesmo se em defesa da própria honra, seria?
Entretanto se complicarmos um pouco qual é sua opinião? Quando uma mãe chega a um hospital clamando por socorro ao seu filho moribundo e o mesmo morre por falta de atendimento, seja esta falta a presença ou não do médico, ou a competência deste, ou ainda os recursos que deveria ter a sua disposição. Quem é o bandido? O médico pode ser culpado por não estar no local, por não saber o que fazer no exato momento, ou até por se permitir trabalhar em local não digno ao serviço que se propõe a fazer. Quem é o bandido? Parece mais fácil agora.
Porém este médico passou por uma faculdade onde foi recebido por um grupo de “renomados profissionais” ainda adolescente ou recém saído da mesma e o entregaram à sociedade após 6 anos árduos com título de médico. Vale lembrar que ele não se fez médico, mas foi formado médico por uma faculdade que teve 6 anos para definir se o mesmo estava adquirindo as bases necessárias para tal título.
Todos temos o direito de ir e vir, de lutar por dignidade. Mas e o médico? Ele tem esse direito? Ele pode cobrar no seu ambiente de trabalho os mesmos direitos dos outros trabalhadores? Horário de almoço, descanso, ergonomia, carga horária máxima. A grande maioria dos brasileiros trabalham no máximo 40 horas semanais, tem direito a feriados e 30 dias de férias no ano, além do 13º salário. Isso sem falar em algumas classes privilegiadas por bons concursos onde se trabalha 30 horas semanais ou esquema de plantão 24/36h (12 horas de trabalho/36 de folga) e com excelentes salários aos padrões nacionais.
Antes que você se irrite com essas palavras, já deve ter percebido que o autor é um médico em defesa da classe, tenha só um pouco mais de paciência, pois a reflexão que pretendo fazer não é essa. Sem perder a oportunidade deixo também registrado que se você calcular o que ganha o médico por hora trabalhada e proporcional às horas de estudo (graduação + pós-graduação + cursos....) verá que não ganhamos mais do que ninguém no serviço público, pelo contrário muitas vezes ganhamos muito menos. Isso é compensado com horas a mais de trabalho e principalmente pelo setor privado. Mas quem é o bandido? Você já descobriu? Tenho certeza que respondeu: são os políticos. Mas é sua opinião, ou você aprendeu isso na TV, jornal, etc. Se você for o médico certamente culpará o diretor do hospital ou secretário de saúde etc. Se for político vai dizer que investiu sabe lá quantos milhões etc. mas faltam médicos. Se for professor pode ter se ofendido e se eximir de culpa dizendo que quem faz a faculdade é o aluno. Será mesmo? E esta função é dele? A maioria vai sempre culpar alguém, geralmente no auge das emoções o culpado é o que está mais próximo, quando eu desejo me eximir o culpado é o que está longe, ou simplesmente “o sistema”. E quem é o “sistema”? O sistema é o pai que não deu limite ao filho; é o jovem que não pensou no amanhã; é o professor que se absteve do compromisso que assumiu; é o profissional que não sabe o preço das lacunas que deixou em sua formação; é o cidadão que se forma corrompido; é o político que não é nada mais que um cidadão.
E agora, quem é o bandido? Será que você não colaborou para que aquela mãe perdesse seu filho, mesmo sem conhecê-la? Provavelmente sim, ainda que não seja médico, professor, diretor de hospital ou centros de saúde, político ou que não tenha ajudado a eleger os atuais políticos. Você pode ter se omitido. Mas se não se sente culpado em nenhuma circunstância pode ser que não tenha sido bandido nunca ou que seja um alienado.
Samir Almeida Borges
Enviado por Glauco Viana em 25/04/2017